Acolhi uma cadela vira-lata pensando que estava dando a ela uma segunda chance, mas, na verdade, foi ela quem me levou à minha.
Meu nome é Abigail e tenho trinta anos. Moro sozinha em um pequeno apartamento de dois quartos na periferia de uma cidade pacata que você não encontraria na maioria dos mapas. Aqui é tranquilo, às vezes até demais.
Depois do meu divórcio no ano passado, disse a mim mesma que a paz me ajudaria a curar as feridas. Em vez disso, só me fez falar com a torradeira e fazer amizade com o carteiro.
Close-up de fatias de pão em uma torradeira | Fonte: Pexels
Trabalho remotamente, criando conteúdo para uma editora, o que significa que meus dias são todos iguais: café, laptop, silêncio. Sem filhos. Sem animais de estimação. Sem caos. Até Bella aparecer.
Era uma quinta-feira cinzenta e chuvosa, um daqueles dias em que o céu parece estar de mau humor e tudo parece um suspiro. Eu estava voltando de uma consulta no dentista que nem precisava ter ido. Eu só não queria estar em casa. Foi quando a vi.
Foto em tons de cinza de uma mulher dirigindo um carro na chuva | Fonte: Pexels
Bem perto da saída da rodovia, encolhida perto do guard-rail, estava uma cadela. Uma mistura de golden retriever, encharcada e tremendo. Seu pelo estava grudado nas costelas e uma das patas parecia torcida debaixo do corpo.
“Oh, não”, sussurrei, parando o carro sem nem pensar.
Minhas botas bateram em uma poça quando atravessei o cascalho. Ela não se mexeu. Não latia. Apenas me encarava com os olhos castanhos mais tristes que eu já tinha visto.
“Olá”, eu disse, ajoelhando-me ao lado dela. “Tudo bem. Não vou machucar você.”
Ela piscou, devagar e calmamente. Como se estivesse esperando por mim.
Close-up de um cachorro molhado | Fonte: Pexels
Tirei meu casaco e o enrolei em volta dela. “Vamos te aquecer, tá?”
Ela não resistiu quando a coloquei no banco do passageiro. Liguei o aquecimento e olhava para ela a cada poucos segundos.
No veterinário, eles a examinaram enquanto eu esperava em uma cadeira de plástico rígida, balançando a perna e mordendo a parte interna da bochecha.
“Não tem chip”, disse o veterinário finalmente. “Nem coleira. Está abaixo do peso, mas não tem ferimentos internos. Apenas uma pata torcida. Talvez tenha um ano, no máximo.”
Uma veterinária segurando um cão | Fonte: Pexels
“Ela… alguém está procurando por ela?”
A veterinária balançou a cabeça. “Se ela foi abandonada, talvez não. Você quer ficar com ela?”
Olhei para a janela, onde ela estava sentada quietinha em uma gaiola, com os olhos ainda fixos em mim. Minha voz ficou um pouco embargada.
“Sim. Sim, eu quero.”
Naquela noite, dei a ela o nome de Bella. Parecia certo: algo suave, algo esperançoso.
Os primeiros dias foram difíceis. Ela não comia a menos que eu sentasse ao lado dela. Dormia enrolada atrás do sofá, como se estivesse se escondendo. Além disso, ela se assustava com barulhos repentinos e não latia. Nem uma vez.
Close-up de um golden retriever | Fonte: Pexels
“Tudo bem”, eu dizia todas as noites, acariciando suas orelhas. “Ninguém vai machucar você agora.”
Depois de uma semana, ela passava a me seguir para todos os lugares. Até mesmo para o banheiro, o que tornava os banhos… complicados. Duas semanas depois, ela abanava o rabo quando eu chegava em casa, pulando com a pata boa como se fosse manhã de Natal.
“Sentiu minha falta, não foi?”, eu ria, largando minha bolsa enquanto ela pulava animada em círculos.
Bella mudou tudo. Ela me obrigava a sair para passear, latia para esquilos como um pequeno leão e se aconchegava ao meu lado quando eu chorava durante aqueles comerciais tristes com música de piano. Minha casa parecia acolhedora novamente. Viva.
Uma mulher caminhando com seu cachorro na floresta | Fonte: Pexels
Mas havia algo estranho também.
Ela ficava olhando pela janela da frente o tempo todo, com as orelhas em pé como se estivesse esperando alguém. Não era um olhar entediado. Era alerta. Esperançoso.
E toda vez que passávamos por uma trilha em Juniper Ridge durante nossas caminhadas, ela parava. Puxava. Choramingava.
“Vamos, Bella, hoje não”, eu murmurava, puxando-a para trás. “Essa trilha é assustadora.”
Isso se tornou um padrão. Em todas as caminhadas.
“Você realmente quer entrar lá?”, perguntei uma manhã, agachando-me ao lado dela. Ela choramingou, cutucando minha perna.
Vista traseira de uma mulher ajoelhada ao lado de seu cachorro | Fonte: Pexels
Finalmente cedi em uma manhã fria de sábado. O ar estava fresco, mas não cortante. As folhas estalavam sob nossas botas e patas.
“Tudo bem”, suspirei. “Vá na frente.”
Assim que soltei a coleira, Bella saiu correndo. Não era uma corrida selvagem, ela estava concentrada, como se tivesse uma missão. Ela parava a cada poucos metros, olhando para trás para se certificar de que eu ainda estava atrás dela.
“Espere”, gritei, desviando de galhos baixos.
A trilha fazia curvas e ficava mais estreita. Eu não tinha ideia de onde estávamos. Meu coração batia forte, não de medo, mas mais de expectativa.
Uma trilha na floresta | Fonte: Pexels
Após cerca de quinze minutos, Bella parou bruscamente perto de um carvalho enorme. Ela cheirou o chão e começou a cavar furiosamente em um monte de folhas e arbustos.
“Bella? O que foi, garota?”
Ela não olhou para mim. Continuou cavando. Seu corpo inteiro estava tenso.
Aproximei-me. Os pelos da minha nuca se arrepiaram.
“Bella, o que você está fazendo?”
Então vi algo aparecendo entre as folhas.
Um golden retriever parado perto de árvores caídas na floresta | Fonte: Pexels
A princípio, pensei que Bella tivesse encontrado uma toca de animal ou talvez um esconderijo de esquilos. Mas, ao me aproximar, algo brilhante chamou minha atenção. Era um pedaço de metal aparecendo entre a terra.
Agachei-me ao lado dela. “O que você encontrou, garota?”
Ela cutucou novamente, depois deu um passo para trás, com o rabo balançando, como se quisesse que eu assumisse.
Tirei algumas folhas. Sob os arbustos havia uma caixa de metal enferrujada, meio enterrada e coberta de musgo. Hesitei. Parecia que estava ali há algum tempo.
“O que é isso?”
Close-up de uma corrente cubana com um fecho em forma de cachorro em cima de uma caixa | Fonte: Pexels
Eu a soltei, com o coração batendo um pouco mais forte. Algo nisso parecia… intencional. Bella ficou sentada ao meu lado, com a cabeça inclinada.
Levei a caixa para casa, coloquei-a sobre a mesa da cozinha, sequei-a e abri lentamente a tampa.
Dentro havia um envelope grosso amarrado com barbante e um pequeno diário com capa de couro rachada. Desamarrei o envelope primeiro. Algumas fotos desbotadas caíram: Bella, inconfundível como filhote. Seus olhos não haviam mudado. Uma foto mostrava-a enrolada em um cobertor de flanela. Outra mostrava-a lambendo a bochecha de uma mulher.
Um golden retriever sentado em um cobertor | Fonte: Pexels
Minha garganta apertou.
Em seguida, desdobrei a carta. A caligrafia era elegante, mas trêmula.
“Querido achador”, começava.
“Se você está lendo isso, só posso esperar que minha querida bebê tenha sobrevivido e que você seja gentil. Estou com uma doença terminal. Morei nesta cabana com ela durante anos, mas sem família, sabia que não podia deixá-la para trás com estranhos. Treinei-a para encontrar esta caixa caso algo acontecesse. Isto é tudo o que me resta — o diário explica o resto. Por favor, cuide dela.”
Close-up de uma mulher lendo uma carta | Fonte: Pexels
Recostei-me na cadeira, atordoada.
Bella cutucou minha perna suavemente. Abaixei-me e acariciei sua cabeça.
“Prometo que cuidarei dela”, sussurrei.
O diário era curto, não tinha mais do que vinte páginas, mas pintou um quadro vívido. Claire, esse era o nome dela, já tinha sido bibliotecária. Ela adorava poesia, colecionava flores prensadas e tomava chá na varanda todas as noites. Ela encontrou Bella abandonada quando era filhote e a criou em uma cabana remota depois de se aposentar mais cedo.
Um filhote de golden retriever fofo olhando para longe | Fonte: Pexels
Ela escreveu sobre seu diagnóstico de câncer. Tentou fazer tratamento, mas era tarde demais. Também se preocupava todas as noites com Bella ficando sozinha. Então, treinou-a, usando sinais olfativos e comandos, para encontrar essa caixa.
Havia algumas anotações também.
“Bella latia para um veado hoje, depois caiu da varanda tentando persegui-lo.”
“Ela dorme com o nariz enfiado debaixo do meu braço. Não sei como vou deixá-la.”
E então havia um cheque visado dobrado.
Eu engasguei.
“Cinquenta mil dólares?”, disse em voz alta. “Você está falando sério?”
Um cheque bancário | Fonte: Freepik
Bella abanou o rabo, sem entender nada, mas contente.
Não consegui dormir naquela noite. Fiquei relendo o diário, imaginando a vida tranquila de Claire escondida na floresta. Imaginando sua dor, sua força. Seu amor por Bella.
Na manhã seguinte, preparei alguns lanches, coloquei a coleira em Bella e segui a trilha novamente. Desta vez, não parei onde encontramos a caixa. Deixei Bella me levar mais para dentro.
Por fim, chegamos a uma pequena clareira. Vigas saíam do chão, enegrecidas e meio podres. O telhado havia desabado. Cacos de vidro de janelas antigas estavam espalhados pelo chão.
Foto em tons de cinza de cacos de vidro no chão | Fonte: Pexels
“Era aqui, não era?”, sussurrei.
Bella sentou-se ao lado dos restos da cabana de Claire, como se soubesse.
Havia algo assustador naquele lugar — como se o silêncio tivesse se instalado ali por respeito. Fiquei ali por um tempo, apenas ouvindo. Pássaros cantavam ao longe. O vento balançava as folhas acima de nós.
De volta para casa, abri meu laptop e comecei a pesquisar abrigos locais. Não sabia exatamente o que estava procurando, mas precisava fazer algo com o que Claire havia me dado e com o que Bella havia me levado a encontrar.
Close-up de uma mulher trabalhando em seu laptop | Fonte: Pexels
Duas semanas depois, eu havia transformado todo o meu quintal em um playground para cães. Grama nova, locais com sombra, rampas, sprinklers. Bella corria por todo o lugar como se tivesse ganhado na loteria.
“Agora você é a rainha do castelo”, eu disse a ela, jogando seu brinquedo favorito que fazia barulho.
Mas não parei por aí.
Comecei a fazer trabalho voluntário no abrigo local nos fins de semana, passeando com os cães, limpando os canis e ajudando nos dias de adoção. Conheci um labrador velho chamado Archie que babava em todo mundo. Uma chihuahua assustadiça chamada Lulu, que mordeu meu sapato na primeira vez que nos encontramos.
Uma chihuahua branca | Fonte: Pexels
E então conheci Noah, um coordenador voluntário com um sorriso torto e mais paciência do que eu achava humanamente possível.
“Você é a Bella, não é?”, ele brincou num sábado.
“Culpada”, eu ri. “Ela está famosa agora.”
“A história da Claire… é incrível. Você planeja ficar só com ela?”
Eu sorri. “Vamos ver.”
Em poucos meses, comecei a acolher animais. Minha casa se tornou uma porta giratória de rabos abanando e patas enlameadas. Eu chorava toda vez que um era adotado. Mas também sentia algo mudar dentro de mim, como se as peças que eu havia perdido após o divórcio estivessem se juntando novamente.
Uma mulher e um cachorro compartilhando um momento de ternura | Fonte: Pexels
Bella observava todos os animais acolhidos indo e vindo, sempre gentil, sempre paciente. Como se entendesse que essa também era sua missão.
Uma noite, sentei-me na varanda, com Bella enrolada ao meu lado e o diário novamente no meu colo. As estrelas estavam brilhando e o vento trazia um leve aroma de pinheiro.
“Espero que você saiba que ela está bem”, sussurrei. “Ela está melhor do que bem.”
Bella cutucou minha mão e eu ri, com um nó na garganta.
Não sei se Claire acreditava em sinais, na vida após a morte ou no destino. Mas eu sei disso: o amor dela não terminou naquela cabana. Ele continuou vivo. Através da Bella. Através de mim.
Close-up de uma mulher segurando um golden retriever | Fonte: Pexels
Já faz mais de um ano. Bella está com o focinho um pouco mais grisalho. Mais lenta nas nossas caminhadas. Mas ela ainda está aqui, enrolada ao meu lado enquanto escrevo isto.
As pessoas dizem que eu a resgatei. E talvez eu tenha feito isso. Mas a verdade é que Bella me salvou primeiro.
E graças a ela e a Claire, encontrei um propósito que nunca imaginei ter.
Se você achou esta história comovente, aqui está outra para você: Quando os pacotes de Jules começam a desaparecer da varanda, ela suspeita do novo vizinho elegante do outro lado da rua. Mas o que começa como suspeita leva a um confronto que nenhum dos dois esperava. Em um bairro tranquilo onde nada acontece.
Este trabalho é inspirado em eventos e pessoas reais, mas foi ficcionalizado para fins criativos. Nomes, personagens e detalhes foram alterados para proteger a privacidade e melhorar a narrativa. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, ou eventos reais é mera coincidência e não é intencional por parte do autor.
O autor e a editora não garantem a precisão dos eventos ou a representação dos personagens e não se responsabilizam por qualquer interpretação errônea. Esta história é fornecida “como está”, e quaisquer opiniões expressas são dos personagens e não refletem as opiniões do autor ou da editora.